Durante a crise humanitária causada pelas cheias no Rio Grande do Sul em maio,
milhares de mensagens tomaram as mídias sociais e os aplicativos de mensagens com o
discurso de que o Estado brasileiro (governo federal, governo estadual e entidades
governamentais) não apenas não estaria fazendo o suficiente, como estaria criando
obstáculos para as doações e as ações de resgate da sociedade civil. Fiscais nas estradas
estariam barrando doações, pedindo notas fiscais dos produtos, fiscais da ANVISA
estariam criando embaraço para doações de remédios e policiais e militares estariam
impedindo lanchas e jet-ski de fazerem resgates por falta de licença.
A profusão de mensagens indicava que o fenômeno era muito significativo. Para
entender a extensão e alcance do discurso, classificamos manualmente uma amostra de
duas mil mensagens do Twitter com as palavras-chave “Rio Grande do Sul” e/ou
“Tragédia” publicadas entre as 10 horas e as 14 horas do dia 10 de maio de 2024.
Para cada mensagem, verificamos manualmente se o conteúdo reiterava o discurso
antiestatal / antigoverno e descobrimos que 31% das mensagens adotavam essa
perspectiva. Consideramos um percentual muito expressivo já que as demais mensagens
não adotavam necessariamente uma perspectiva diversa, mas tinham apenas outra
natureza: eram, por exemplo, lamentos pela devastação causada pelas chuvas ou
chamadas para doações e voluntariado. Algumas das mensagens que classificamos como
aderentes ao discurso antiestatal / antigovernamental tinham conteúdo opinativo e outras
tinham conteúdo factual – e alguns dos fatos alegados nas mensagens foram desmentidos
por agências profissionais de verificação. Apesar disso, não medimos neste estudo o
percentual de mensagens com alegações factuais que foram contestadas pelas agências de
verificação.
Autores: Ergon Cugler de Moraes Silva, Pablo Ortellado, Girliani Martins da Silva, Débora Leite, Michele Prado e Camila Pimenta
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