O relatório analisa os quarenta primeiros dias da campanha eleitoral de Jair Bolsonaro no Facebook, do dia 16 de agosto ao dia 25 de setembro de 2018.
Reunimos todas as publicações da página oficial do candidato e todas as publicações das páginas mais relevantes que fazem propaganda pró-Bolsonaro e classificamos por tema o conteúdo daquelas publicações que tiveram maior número de compartilhamentos. A campanha parece estar sendo realizada mais pelas páginas de apoio do que pela página oficial do candidato (as páginas reuniram 38 milhões de compartilhamentos sendo apenas 3 milhões da página oficial).
O levantamento mostra que apenas três temas dominaram as publicações mais compartilhadas, respondendo por mais de 80% das publicações temáticas (isto é, aquelas que não eram apenas apoio, simples propaganda do candidato ou lamentavam o atentado): feminismo, antipetismo (ou anti-esquerdismo) e anti-Globo.
As questões que envolvem a mulher parecem ser uma obsessão da campanha, já que as mulheres constituem um dos principais grupos demográficos nos quais o candidato tem dificuldade em encontrar adesão. O antipetismo, às vezes ampliado para uma postura anti-esquerda ou anti-partidos políticos e as críticas à imprensa e à rede Globo em particular, têm forte conotação anti-establishment.
Outros temas como armamentos, sexualização da infância, corrupção e punição a criminosos embora bastante presentes tiveram, proporcionalmente, muito menos compartilhamentos. Essa constatação é contraintuitiva e destoa do entendimento corrente de que a campanha de Bolsonaro é centrada no direito do porte de armas, na punição aos criminosos e no combate à corrupção (embora combate à corrupção e antipetismo tenham bastante intersecção).
Além da concentração nos três temas mencionados acima, chama a atenção que, de maneira geral, os temas morais, como o papel das mulheres, o porte de armas, a punição a criminosos, a sexualização da infância e outras questões dessa natureza dominam a campanha; com exceção de menções pontuais à redução de impostos e da burocracia, praticamente não aparecem temas de política econômica ou políticas sociais. A campanha de Bolsonaro é, assim, mais antissistêmica do que conservadora e muito mais conservadora do que liberal, no sentido econômico.
Chama também a atenção que apesar da simbologia nacionalista e do lema “Brasil acima de tudo”, não encontramos entre as publicações mais compartilhadas nenhuma que defenda pautas nacionalistas, seja numa chave anti-imigrante, seja numa chave de proteção dos empregos, da indústria ou da cultura brasileira.
Coordenação da pesquisa: Pablo Ortellado e Márcio Moretto
Repercussão: Folha de São Paulo
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